sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Por que podemos gostar de reality shows?

Inicialmente, qualifiquemos: o que é mesmo um reality show?

Trata-se de um programa de TV com a exposição, aos telespectadores, de situações ditas “reais”, ou seja, efetivamente vivenciadas por participantes. Em tese, sem ficção.

Reality shows têm várias possibilidades de formatos, abrangendo elementos como:
  1. Enfrentamento de um ou mais desafios.
  1. Premiação financeira e/ou por meio de outros ganhos associados aos desafios acima citados.
  1. Participação de pessoas famosas, desconhecidas ou de ambas os tipos.
  1. Competição, cooperação ou ambas as possibilidades entre participantes.
  1. Ambientação em cenários internos (estúdios de TV) e/ou externos (diversos).
  1. Interação do programa em relação ao público não participante, de nula a elevada.
  1. Transmissão ou não de dicas sobre assuntos específicos, como moda, culinária, decoração e outros.
  1. Apresentação em tempo real ou por meio de reprodução de cenas passadas. No primeiro caso, a audiência assiste ao programa em primeira mão, acompanhando o que ocorre em tempo real com os participantes; no segundo, o reality é exibido após o ocorrido.
  1. Merchandise de produtos de diversos tipos, adequados ao reality que se considera.
Crédito da imagem: Salvatore Vuono
Os reality shows diferem, por exemplo, de filmes, novelas e seriados, que são ficcionais ou eventualmente baseados em fatos reais (mas não fatos reais); também diferem de programas de notícias, documentários e outros afins, os quais reproduzem, reportam e por vezes, analisam situações ocorridas.

Consideremos os seguintes dois exemplos, da TV brasileira, a fim de que se possa visualizar os elementos anteriormente listados, observando que as considerações apresentadas procuram retratar o ângulo de um(a) telespectador(a) genérico:


Exemplo 1: Esquadrão da Moda (SBT)


  1. Desafio
Melhorar substancialmente, o estilo de participantes, especialmente, do sexo feminino, alterando-se vestuário, cabelos e maquiagem.
  1. Premiações
Não se aplicam. Alcançar o desafio já constitui premiação.
  1. Participação
Dois especialistas em moda, um especialista em cabelos e uma especialista em maquiagem, além da pessoa convidada; quase sempre, desconhecida do público, e cujo visual será substancialmente melhorado.
  1. Competição x cooperação
Cooperação entre os coordenadores de moda e o(a) participante, bem como entre esse(a) último(a) e cada um dos dois outros especialistas.
  1. Cenário
Internos (estúdio) e externos (caminhadas por ruas e visitas a lojas).
  1. Interação do programa com o público
Exclusiva dos participantes entre si.
  1. Dicas
Apresentadas ao longo do programa sobre vestuário, cabelo e maquiagem.
  1. Apresentação em tempo real x reprodução
Reality reproduzido ao público em dia específico da semana.
  1. Merchandise
Aparentemente, de alguns itens apresentados no programa.


Exemplo 2: Big Brother Brasil (Rede Globo)


  1. Desafio

Conviver, em um espaço confinado previamente preparado (“casa” construída para o reality), o máximo de tempo possível com um grupo de pessoas, sem ser eliminado pelo público.
  1. Premiações
Premiação financeira final e outros benefícios ao longo do reality, que dura várias semanas.
  1. Participação
Pessoas desconhecidas, previamente selecionadas. Artistas e outros profissionais, pontualmente, entram no cenário e participam de partes específicas, apresentadas ao público.
  1. Competição x cooperação
Coexistência das duas posturas. Intrinsecamente, o reality constitui uma competição, mas esta requer, em vários momentos, cooperação entre participantes.
  1. Cenário
Preponderantemente interno (na “casa” previamente preparada). Os participantes ficam confinados em um espaço desenvolvido para esse fim (casa). Exceções são abertas para eventos específicos.
  1. Interação do programa com o público
Elevada, no sentido de que o público elimina, a cada semana, um dos participantes. Outros canais de interação podem ser trabalhados.
  1. Dicas
Não se aplica, o que não significa que os diálogos na casa não possam originá-las, entre os próprios participantes.
  1. Apresentação em tempo real x reprodução
A cada dia, o reality é apresentado parcialmente em termo real e parcialmente como reprodução.
  1. Merchandise
Aparentemente, de alguns itens apresentados no programa.


Ao lado dos dois exemplos citados, baseados em realities exibidos em outros países, existem muitos outros. Citemos, adicionalmente, outro exemplo de reality, dessa feita, produzido nos EUA:

Exemplo 3: Cake Boss (Discovery Home and Health)


  1. Desafio
Produzir bolos maravilhosos, com decorações surpreendentes.
  1. Premiações
Não se aplicam. A criação de um bolo excepcional já constitui premiação intangível ao seus executores.
  1. Participação
Buddy Valastro (o cake boss), a equipe de sua loja de confeitos em New York (que inclui pessoas de sua própria família) e pessoas desconhecidas em geral, as quais encomendam bolos que sejam visualmente originais. Note-se que Buddy esteve no Brasil, recentemente, tendo recebido a atenção e o carinho de muitos telespectadores.
  1. Competição x cooperação
Cooperação entre os membros da equipe que cria os bolos.
  1. Cenário
Interno (estúdio) e esternos (especialmente no transporte de bolos aos locais de entrega).
  1. Interação do programa com o público
Exclusiva dos participantes entre si.
  1. Dicas
Aquelas transmitidas ao longo da construção dos bolos.
  1. Apresentação em tempo real x reprodução
No Brasil, o reality é reproduzido.
  1. Merchandise
O principal merchandise percebido é o da loja de confeitos.


Imagem do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin
Poderíamos citar muitos outros exemplos de reality shows, contemplando vários e distintos formatos: situações de sobrevivência em ambiente agressivo, em ambiente rural, eficácia em gestão empresarial, decoração, moda, arte etc. Deixamos aqui os três exemplos anteriores, admitindo, desde já, que os mesmos não esgotam, nem de longe, a criatividade dos produtores de TV em criar opções para os telespectadores.

Por um lado, reality shows podem criar elevado nível de interesse do público e terem elevada audiência. O interesse pode estar associado a diversos fatores e/ou necessidades, tais como:

  • Curiosidade; por vezes, voyerismo.
  • Relaxamento.
  • Diversão.
  • Conhecimento.
  • Possibilidade de interação.
  • Realização de sonhos e desejos, ainda que por meio da atuação de outras pessoas.
  • Outros
Por outro lado, realities podem, genericamente, ser objeto de críticas, tais como:
  • Pessoas poderiam ser expostas a situações desagradáveis ou mesmo degradantes.
  • Cenas podem ter uso excessivo e irresponsável de alcóol.
  • Pessoas podem se comportar de maneira muito agressiva.
  • Formatos podem ser pobres em conteúdo, não criando oportunidades de criatividade e aprendizado para todos, participantes e o público.
  • Coordenadores e especialistas podem estabelecer critérios rígidos sobre temas como moda, estética e outros, ainda que substancialmente subjetivos.
  • Situações ditas “reais” podem não ser tão reais assim, se a TV não as estivesse exibindo. Lembrando que edições de TV podem comprometer a “real realidade”.
  • Participantes podem alterar seu comportamento, considerando sua exposição ao público, comportando-se como não se comportariam se não estivessem sendo televisionadas.
  • Celebridades podem ser criadas sem mérito para tal.
  • Atitudes vulgares podem ser indevidamente tratadas como glamour.
  • Outras.
Imagem do filme Truman Show
Na relação de críticas negativas acima, a possibilidade de degradação de pessoas, o uso abusivo de alcóol e a agressividade se destacam entre os
demais exemplos.

Retornemos, neste ponto, à pergunta do título deste post: por que podemos gostar de reality shows? Ressalta-se que a palavra “valor”: aqui, é sinônima de algum benefício considerado válido pelo telespectador, ainda que de forma implícita, ou seja, sem que o mesmo não pare para analisar por que mesmo gosta de assistir a um dado reality. Nesse sentido, a lista anterior de itens que podem provocar grande interesse nas pessoas constitui-se em um conjunto de boas pistas.

Acreditamos que a partir do momento em que uma pessoa assiste a um reality show ou a qualquer outro programa de TV, de algum benefício ela usufrui, segundo sua própria maneira de ser e ver o mundo. Mas, vamos combinar: não ocorreria, talvez, o mesmo em relação a outros programas televisivos, ainda que no caso dos realities, alguns sentimentos em relação aos fatos exibidos se tornem, talvez, mais exacerbados?

Ao mesmo tempo, também acreditamos que aqueles realities e programas, de maneira mais ampla, que procurarem formatos que maximizem benefícios, concomitantemente minimizando ou eliminando aspectos negativos, terão maior chance de agregação de valor à sociedade, independentemente do quesito audiência, que não deve prescindir, afinal, de uma postura ética. Qual é a principal implicação dessa reflexão? A nosso ver, bom senso, dos produtores de TV, dos participantes e do público, com especial atenção, sugerida, às crianças, que não necessitam se tornar adultas antes do tempo certo.

Postado por Nica Brand

Um comentário:

  1. Adoro reallities e assisto vários: Cake Boss, A Guerra dos Cupcakes, Hell's Kitchen, Hotell Hell, The Face, Esquadrão da Moda, menos esses globais como BBB, A Fazenda, que são meros antros de discussão de coisa nenhuma.
    Acho que são programas diferentes, alguns movidos pela competição, outros pela auto-superação, outros pelas transformações.
    Sempre têm uma emoção, e acaba ajudando a distrair um pouco a cabeça. Sou fã desse tipo de programa.

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