Antes de começar este papo com você, internauta, convido-o(a) a assistir este vídeo de pouco mais de um minuto. É um trecho da antiga série de TV Batman:
Muito engraçado, não? Na verdade, o diretor daquela antológica série de TV optou pelo pastelão, pelo humor. Numa linguagem atual, podemos dizer que aquela série era uma gozação.
Que diferença do Batman atual, dos cinemas! Em poucas décadas, Batman mudou disto:
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Para isto:
A pergunta é: dá pra comer pipoca assistindo ao Batman no cinema?
Pode-se argumentar que TV é diferente de cinema. Há um fundo de verdade nessa observação. As séries produzidas pelo cinema dos EUA tendem ao humor. Mas o filme de cinema de hoje será exibido na TV alguns meses depois.
Pode-se argumentar que TV é diferente de cinema. Há um fundo de verdade nessa observação. As séries produzidas pelo cinema dos EUA tendem ao humor. Mas o filme de cinema de hoje será exibido na TV alguns meses depois.
Essa transformação dos personagens para versões sinistras deles mesmos é, certamente, resultado da transformação da sociedade, particularmente da sociedade estadunidense, origem desses personagens. Talvez seja o resultado das sucessivas crises econômicas... Talvez o resultado do pessimismo diante da espécie humana...
Vejamos mais um exemplo dessa darkinização dos personagens. Quem tem mais de 30 anos há de se lembrar do desenho das Tartarugas Ninjas. Muito divertido, com vilões hilariantes e heróis mais hilariantes ainda. Em breve entrará nas grandes telas o novo filme das Tartarugas Ninja. E, de novo, nota-se a transformação. Disto:
Para isto:
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Novamente se notam as cores escuras e a atitude agressiva dos heróis. Certamente os vilões que esses brutamontes enfrentarão não serão engraçados. As Tartarugas Ninja não são mais tartarugas.
Foi uma opção do cinema dos EUA. Eles seguem por essa linha na qual a violência é glorificada, desde que seja contra o mal. E o mal é absoluto, não há margem para questionar os motivos do vilão. Ele é o vilão, e ponto final. Tem que ser derrotado e preso ou, em geral, morto.
Homem Aranha, um ponto fora da curva
Mas esse caminho não é unanimidade no cinema dos EUA. Veja-se, por exemplo, os três primeiros filmes do Homem Aranha. São muito interessantes, pois o vilão tem seu lado humano. E tem seus motivos, sejam eles justificados ou não. O Duende Verde (cujo papel é do excelente William Dafoe) era, originalmente, Norman Osborne, um dedicado cientista. Ao ver seus experimentos serem ameaçados por um corte de verbas dos acionistas da empresa, ele tenta uma última cartada, experimentando em si mesmo um gás especial. O experimento dá errado e ele se transforma totalmente, passando a exibir uma personalidade psicótica. O pior é que ele é pai de Harry, o melhor amigo de Peter Parker, o Homem Aranha. No final, ele pede a Parker: "por favor, não diga nada ao Harry".
No Homem Aranha 2, o vilão é também um cientista, dr. Otto Gunther Octavius. Peter Parker chega a frequentar a casa do dr. Octavius (antes dele se tornar vilão) e de sua mulher. Ao saber das dificuldades de Parker com sua amada Mary Jane, ele o aconselha a ler poesia para ela, e conta que foi assim que ele conquistou sua esposa. Revela-se o lado humano do dr. Octavius (interpretado pelo excelente Alfred Molina), mostrando que ele não é "o mal encarnado". Aliás, neste filme também se revela a fragilidade do Homem Aranha. E não estou falando da sua timidez com as mulheres. Falo desta antológica cena em que o herói impede que um trem do metrô sofra um desastre. O esforço é demais para ele, que desmaia. Aí as coisas se invertem: o herói é salvo pelos cidadãos comuns. Veja que cena interessante:
Também se nota que os três primeiros filmes do Homem Aranha não usaram as cores escuras que atualmente viraram moda no cinema dos EUA. Ao contrário, são cores claras, com as cenas externas acontecendo, em geral, em dias ensolarados.
No caso do quarto filme, O Espetacular Homem Aranha, trata-se de uma estória um pouco menos ingênua. No entanto, o filme mantém a característica dos anteriores, de não glorificar a violência.
E na TV?
A TV tem resistido a essa tendência do cinema. Como dissemos no início, há muitas séries de humor produzidas nos EUA. Mesmo em se tratando de um humor cínico e debochado, ainda assim é humor.
No entanto, nos últimos anos também na TV surgiram as séries "de ação" que reproduzem a estética adotada majoritariamente no cinema. Destaque para Game of Thrones e para Once Upon a Time. Esta última "reconta" os contos de fadas. Só que agora eles se tornaram muito, muito sinistros. Exemplo do episódio em que Chapeuzinho Vermelho se transforma no Lobo.
E na TV?
A TV tem resistido a essa tendência do cinema. Como dissemos no início, há muitas séries de humor produzidas nos EUA. Mesmo em se tratando de um humor cínico e debochado, ainda assim é humor.
No entanto, nos últimos anos também na TV surgiram as séries "de ação" que reproduzem a estética adotada majoritariamente no cinema. Destaque para Game of Thrones e para Once Upon a Time. Esta última "reconta" os contos de fadas. Só que agora eles se tornaram muito, muito sinistros. Exemplo do episódio em que Chapeuzinho Vermelho se transforma no Lobo.
Salvo exceções, a tendência das grandes produções do cinema e TV dos EUA - a qual influencia boa parte do mundo - é essa estética um tanto amarga e uma roteirização que faz da violência um espetáculo. A inocência ficou, definitivamente, para trás.
Mas, é o caso de perguntar: se esse filmes têm enormes bilheterias no mundo todo, não será por que nós todos nos tornamos mais cínicos e nos identificamos com filmes mais sombrios?
Quanto aos adultos de hoje, é possível que eles tenham se habituado a esses filmes escuros e assustadores. Pode até ser uma forma de compreender melhor a si mesmo. Afinal, todos nós temos, lá no fundo, nosso demônio pessoal. Quem sabe filmes como Batman nos façam entrar em contato com nosso lado desconhecido...
Quanto às gerações mais jovens, os adolescentes e pré-adolescentes, estes crescem jogando videogames extremamente violentos. Para eles, nada de mais em assistir filmes violentos. O perigo é que esses jovens cresçam achando que essa mesma violência seja aceitável na vida real.
Mas, é o caso de perguntar: se esse filmes têm enormes bilheterias no mundo todo, não será por que nós todos nos tornamos mais cínicos e nos identificamos com filmes mais sombrios?
Quanto aos adultos de hoje, é possível que eles tenham se habituado a esses filmes escuros e assustadores. Pode até ser uma forma de compreender melhor a si mesmo. Afinal, todos nós temos, lá no fundo, nosso demônio pessoal. Quem sabe filmes como Batman nos façam entrar em contato com nosso lado desconhecido...
Quanto às gerações mais jovens, os adolescentes e pré-adolescentes, estes crescem jogando videogames extremamente violentos. Para eles, nada de mais em assistir filmes violentos. O perigo é que esses jovens cresçam achando que essa mesma violência seja aceitável na vida real.
Postado por Beto Locatelli
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