terça-feira, 2 de setembro de 2014

Como os juros podem ser usados a favor da nossa família?

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Dentro de um planejamento pessoal que alguém queira desenvolver, tema esse abordado nos posts Por que planejar a vida pode fazer grande diferença? (29/07/2014) e É possível planejar a vida estrategicamente, como fazem empresas e outras organizações? (03/08/2014), um dos pontos mais relevantes é o planejamento das finanças pessoais. Este é um assunto que merece especial atenção, estando associado tanto à dimensão do trabalho quanto à dimensão do “Eu”, onde residem as nossas potencialidades e dificuldades pessoais.

Por que pessoas podem ficar em sérias dificuldades financeiras, eventualmente dependendo de outras para sobreviverem? Acreditamos que existem vários motivos, entre os quais destacamos, sem pretender esgotar as ocorrências:
  1. Falta de cultura de poupança e excesso de cultura de gasto. Uma pessoa, ao longo de sua vida, pode sequer ter sido avisada por alguém do seu círculo familiar ou de amizades sobre a importância de pensar no futuro. É incrível, mas pode acontecer.
  1. Carência de ensinamentos básicos sobre a gestão de finanças domésticas. A pessoa pode, simplesmente, jamais ter tido a oportunidade de participar de alguma discussão mais aprofundada sobre conceitos como consumo, poupança, juros, inflação e outros.
  1. Crença justificada em uma oportunidade que não se mostrou válida. A pessoa pode ter investido seus esforços em algum tipo de atividade ou negócio que não se confirmou, ao final, como sendo interessante. Não se descarte a possibilidade de problemas com sócios, que por vezes podem ocorrer, onerando uma das partes.
  1. Despreparo para situações de emergência. A inexistência de um plano de saúde ou de uma reserva para situações de emergência, pode colocar a pessoa em uma espiral de dívidas e comprometimento da renda. Ninguém está imune a eventos como doenças, cirurgias e outros; o ideal é que não aconteça, mas é preciso, além de cuidar da saúde, pensar nos recursos financeiros.
  1. Sentimento de poder diante da oferta de crédito. Propositalmente colocada diante de várias 
    Créditos da imagem: imagerymajestic
    possibilidades de crédito - iscas como cheque especial, financiamentos on line e várias outras - a pessoa pode se sentir falsamente poderosa e utilizar esses créditos de forma agressiva, sem se lembrar de que os mesmos devem ser usados apenas em caso de grande ou extrema necessidade.   
  2. Desejo intenso de realizar algum plano específico, sem planejamento. O sonho de adquirir um bem ou serviço específico (exemplo: aquele carro maravilhoso!) pode ser tão forte que conduza o indivíduo a gastar muito além de suas posses, sem qualquer tipo de poupança programada para bancar seu desejo.
  1. Desejo intenso de aceitação social. A pessoa pode preferir se endividar em demasia, muito além de suas possibilidades, em prol de ostentar um padrão e de se sentir aceita.
  1. Compulsão por consumo. Da mesma forma que existem pessoas compulsivas com alimentos e outros itens, existem pessoas que compram bens compulsivamente, não por que necessitam, mas por que simplesmente não conseguem não comprar.
  1. Abuso de parentes ou pessoas próximas. Isso é particularmente preocupante, pois a pessoa pode ser explorada e ter seus recursos financeiros drenados por cônjuge, parentes ou “amigos” gastadores. Ponto de atenção: a dificuldade de dizer não.
  1. Condição macroeconômica desfavorável, que tenha produzido perda de emprego e/ou de renda. Isso pode, sim, ocorrer. Infelizmente, nem sempre a oferta de trabalho é a melhor possível e muitas pessoas podem ficar sem trabalho, o que pode corroer suas economias.

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Analisando a relação acima, na qual não priorizamos nenhum item como sendo aquele mais relevante, considerando tudo importante, observamos que parte dos problemas pode se originar nas próprias pessoas, em nossas condições emocionais. Nos itens 4 a 9, o aspecto emocional está particularmente evidenciado. Por outro lado, nos itens 1 a 3 e 10, principalmente nesse último, lembramos que nem tudo depende ou dependeu de nós; ao mesmo tempo, pensar nesses itens ajuda a prevenir o futuro, a fazer a nossa parte e a ter planos B, C e assim por diante.

Em meio às dificuldades e riscos, há boas notícias: dá, sim, para melhorar bastante o planejamento das finanças familiares (e pessoais!), havendo uma série de medidas e providências que podem ajudar. Este post, dedicado às famílias, focaliza um primeiro passo inicial, que é entender o seguinte: os juros são um mecanismo da economia que pode ser usado contra ou a favor das pessoas e famílias. Os juros criam um efeito bola de neve que precisa ser bem compreendido e usado a nosso favor. Não na criação do endividamento sufocante, mas na criação de poupança.

O efeito bola de neve acima

Considere-se que um casal fictício, João e Maria, consiga dispor de $ 100 para poupar mensalmente, durante 10 anos, ou seja, 120 meses.

Suponha-se, ainda, que essa poupança possa ser feita considerando um leque de alternativas, as quais possam render taxas de juros variando de 2,00% a 5,00% ao ano, acima da inflação. No gráfico a seguir, ilustramos tal suposição:


Note-se, no gráfico acima, que quanto maior for a taxa de juros alcançada por João e Maria, maior será o valor de sua poupança final.

O gráfico em questão já nos permite identificar um certo efeito bola de neve, a partir da obtenção de maiores taxas de juros para os recursos poupados. Essa bola cresce em movimento de ascensão, para cima, diferentemente das bolas de neve reais, que encorpam ladeira abaixo...

Continuemos nosso raciocínio. Suponha-se agora que o casal hipotético do nosso exemplo, João e Maria, queira aumentar o valor poupado. Veremos que esta será uma boa decisão, sob o ponto de vista de potencialização da poupança final.

Para uma dada taxa de juros, quanto maior a quantia poupada mensalmente, maior a poupança final. Confira no gráfico abaixo, para a taxa de juros de 2,00% ao ano, como isso é verdade:


Conforme se percebe, para uma taxa de juros de 2,00% ao ano acima da inflação, João e Maria poderão alcançar, em 10 anos, uma poupança conjunta total de R$ 132.597 mil, se conseguirem poupar, a cada mês, R$ 1.000. Importante: esse valor poupado mensal precisa acompanhar a inflação.

E se conseguirmos uma taxa melhor para aplicar nossos recursos? Conforme já visto, taxas maiores certamente melhorarão a poupança final. Para a taxa de 5,00% ao ano, por exemplo, o gráfico anterior se tornará:


Nos exemplos apresentados, demonstramos que uma poupança feita regularmente é um caminho consistente para uma poupança final robusta, pensada para um futuro longínquo, como por exemplo, o momento da aposentadoria, que chega inexoravelmente para todos. Este é um dos caminhos para que se possa poupar. Discutir em profundidade o quanto poupar, como, por quanto tempo e por quais caminhos é muito importante, para não dizer crucial, merecendo um post à parte.

Créditos da imagem: David Castillo Dominici
Por ora, retornemos à pergunta inicial do presente post - como os juros podem ser usados a nosso favor? Com base nos exemplos apresentados, podemos concluir que os juros e seu efeito bola de neve acima precisam ser usados para potencializar as nossas poupanças e, não, as nossas dívidas. Não estamos aqui preconizando a ausência completa de dívidas para as famílias, mas, sim, sugerindo elevada atenção aos fatores que podem conduzir a uma espiral de endividamento absurda, bem como recomendando a singela ideia de ... poupar!

Finalizamos observando que somente será possível poupar para o futuro se uma regrinha básica for rigidamente seguida: gastar menos do que se arrecada. Parece simples? Se analisarmos a lista de problemas que podem conduzir uma pessoa às suas dificuldades financeiras, concluiremos que não necessariamente, haja vista que no mundo dos seres humanos, a simplicidade nem sempre é simples e fácil de alcançar. Mas é preciso tentar.

Postado por Nica Brand


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