Como escapar da armadilha dos paradigmas?

Começo contando um causo. Um dia este escriba recebeu a visita de casal amigo, Claudia e Caio. Isso faz muitos anos. Naquela época, os computadores tinham acabado de ganhar funções multimídia, e passaram a ter aquelas caixinhas de som na cor gelo. Aliás, tudo que fosse ligado a computador vinha na cor gelo.

Os botões de controle das caixas eram muito baixos, quase rentes à mesa, tornando difícil aumentar e diminuir o volume sem derrubar a tal caixinha. Acontece que solucionei esse problema simplesmente virando a caixa de cabeça para baixo. Quando a Claudia viu, ela ficou maravilhada e exclamou:

— Por que não pensei nisso!! Vivo derrubando essas caixas de som, e você resolveu o problema de maneira simples!

Minha solução foi resultado de uma pequena ruptura de paradigma: por que não colocar a caixa de cabeça para baixo, se o som sai do mesmo jeito?

É esse o tema aqui: paradigmas, como eles podem nos bloquear, se ficarem ultrapassados, e como se livrar deles para alcançar novos horizontes.

O que são paradigmas?

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A palavra paradigma tem várias definições. Uma delas é: paradigma é uma determinada visão da realidade. Mas, definições teóricas não explicam muito. O melhor é dar exemplos. Aqui vai mais um, também envolvendo computadores, só que este é em grande escala:

Nos primeiros tempos dos computadores (décadas de 60 e 70) havia uma e somente uma empresa dominando completamente esse mercado. Era a IBM. Não havia espaço para uma segunda colocada. A Gigante Azul, como era chamada, fabricava os mainframes, aqueles computadores enormes que víamos nos filmes de James Bond.

Na década de 80, alguns jovens aficcionados da área de informática começaram a produzir, quase que artesanalmente, um produto muito estranho: computadores pequenos. Entre eles estava um sujeito de penteado esquisito, chamado Bill, e um outro que era frugivorista (só comia frutas, principalmente maçãs), chamado Steve. Eles achavam que um computador deveria caber inteiro sobre uma mesa de escritório.

Os magnatas da IBM, sentados num trono de fama e fortuna, riram muito daquela ideia. Eles pensavam: quem é que vai querer ter um computador pequeno? Para eles, essa ideia não tinha nenhum futuro, era coisa de hippies. Bem, o resto é história: os computadores pessoais (PCs) vieram como uma onda avassaladora que quase levou a IBM à bancarrota. Hoje a empresa é apenas sombra da gigante que foi no passado.

O que houve? Por que as cabeças pensantes da IBM não viram o potencial que havia naquela ideia? A resposta é: estavam cegos para novos paradigmas. Ou, em outras palavras, estavam mentalmente presos no paradigma anterior, o dos computadores gigantescos. A nova ideia chegou e eles simplesmente não perceberam.

O que é um relógio?

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Mais ou menos nesta mesma época (década de 70) havia um país que dominava totalmente a indústria de relógios no mundo: era a Suíça. O pequeno país europeu dominava nada menos do que 90% do faturamento da indústria relojoeira NO MUNDO!! Quinze anos depois, esse volume tinha desabado para 10%. Nos dias atuais, é ainda menor. Novamente, precisamos fazer a pergunta: o que houve? Como esse desastre empresarial pôde ocorrer? Então, aqui vai a chocante resposta.

Dois jovens inventores criaram um relógio muito, muito esquisito: ele não tinha engrenagens em seu interior, não tinha mola mestra e, pior, não fazia tic-tac!! Os empresários da secular relojoaria suíça não deram a menor importância àquela bobagem. Aquilo não era um relógio, no entender deles. Era apenas um brinquedo tolo. Detalhe: os dois inventores eram... suíços!

A indústria de relógios da Suíça nem se preocupou em registrar a patente daquele brinquedo. Afinal, para que gastar tempo e dinheiro só para registrar a patente de uma invenção inútil, não é mesmo? Mas, havia quem se interessasse por aquela traquitana esquisita: uma pequena empresa japonesa, uma tal de Seiko (!!) achou o novo relógio muitíssimo interessante. Não foi a única. Outras empresas japonesas, além da Seiko, começaram a produzir o que hoje conhecemos como relógio digital. E, novamente, tivemos o fenômeno da onda avassaladora do novo paradigma, da mesma forma como ocorreu na área de computadores. Os jovens, principalmente, queriam ter um relógio que não precisava de corda, e que não parava de funcionar só porque o dono moveu o braço de maneira brusca.

Houve milhares de demissões na indústria de relógios suíça. Para um pequeno país, milhares de demissões representam um desastre social. Tudo porque os empresários suíços estavam totalmente cegos ao gigantesco potencial daquela novidade. Estavam diante do relógio digital, inventado por dois suíços, e simplesmente NÃO VIRAM o que tinham em suas mãos! Considero isso espantoso.

Uma das regras dos paradigmas é a seguinte: quando um paradigma muda, todo mundo volta ao zero. Traduzindo, significa que não importa o quanto você é bom em fabricar relógios com engrenagens. O paradigma mudou, e a corrida para conquistar os consumidores voltou ao zero.

Algumas coisas ditas aqui estão em um vídeo da SIAMAR, chamado A Questão dos Paradigmas. Vale a pena contatar a empresa para assisti-lo.

Paradigmas pessoais

Créditos da imagem: KROMKRATHOG

Até aqui falamos de cases empresariais. Mas os paradigmas estão presentes também em nossa vida pessoal e familiar. E, claro, em nossa vida profissional.

Quanto às questões pessoais e familiares, não é objetivo deste artigo se aprofundar em área tão delicada. No entanto, aqui vão algumas questões para que você analise:

- Sua alimentação atual contribuirá positivamente para sua saúde no futuro? Qual o seu paradigma alimentar? Viver para comer ou comer para viver?

- Você está criando seus filhos de maneira frouxa demais? Ou rígida demais?

- As redes sociais estão atuando como um ladrão de tempo em sua vida?

- Sua vida afetiva caiu na rotina?

Pronto, fiquemos apenas com estas. Já na questão profissional, sugiro a você meditar no seguinte território:

- Como a internet pode contribuir na sua área profissional?

- Você está feliz como empregado, ou gostaria de se tornar empresário?

- Como você gostaria que fosse sua atuação profissional no futuro?

As "regras" do paradigma

Já citamos anteriormente uma regra (se é que podemos chamar assim) dos paradigmas:

1) Quando um paradigma muda, todo mundo volta ao zero.

Você pode ser muito bom com o paradigma antigo. Mas, quando ele muda, você tem que recomeçar tudo.

Completamos com mais duas:

2) Novos paradigmas são descobertos quando nos fazemos a pergunta: o que é impossível mas, se fosse possível, seria excelente?

Alguém, um dia, pensou: e se não precisássemos mais de revelação fotográfica? Era impossível, mas agora é possível, com as câmeras digitais.

3) Os novos paradigmas surgem nas fronteiras do paradigma antigo.

Um exemplo é a fotocopiadora (xerox). Ela foi apresentada, inicialmente, como "máquina fotográfica para fotografar documentos". O automóvel foi chamado, no século passado, de "carruagem sem cavalos". Ambos os inventos estavam nas bordas de paradigmas antigos.

Lembre-se que os novos paradigmas são quase sempre avassaladores. Sobre isso há uma frase um tanto agressiva no já mencionado vídeo da Siamar: "aqueles que dizem que não dá pra fazer devem sair da frente daqueles que já estão fazendo".

Para finalizar, exortamos você, leitor, a manter a mente aberta para as mudanças e para a evolução pessoal, profissional e tecnológica. Os novos paradigmas podem parecer assustadores, de início. Mas, se você surfar neles, verá que podem ser impulsionadores e gratificantes.

Postado por Beto Locatelli