sábado, 4 de outubro de 2014

Como consumir água conscientemente e ajudando as finanças domésticas? (Parte I / II)

site de origem da imagem
hidrologia é a ciência que estuda a água no Planeta Terra e acima de sua superfície, seus estados – sólido, líquido e gasoso – e a transição entre os mesmos, a qualidade, a quantidade e outros aspectos.

A água, por sua vez, é o constituinte inorgânico mais abundante nos seres vivos: no homem, representa cerca de 60% do seu peso; nas plantas, pode atingir 90%. Ademais, ela tem um papel fundamental de consumo em atividades humanas, com variados usos, tais como:

  1. Abastecimento público.
  1. Abastecimento industrial.
  1. Atividades agrícolas.
  1. Preservação da fauna e flora.
  1. Criação de espécies destinadas à alimentação humana.
  1. Geração de energia elétrica.
  1. Navegação.
  1. Recreação (natação, mergulho, esqui aquático e outras atividades).

site de origem da imagem
A água circula no Planeta Terra por meio de um ciclo hidrológico, simplificadamente descrito da seguinte forma: a água do mar evapora até a atmosfera, formando nuvens que se movimentam até a terra. A precipitação dessas nuvens, por meio das chuvas, realimenta os rios, os quais, por sua vez, desembocam no mar, sendo reiniciado o processo. O ciclo não é perfeito, haja vista que parte das chuvas ocorre sobre a própria terra e o mar; além disso, ele não é uniforme, podendo haver períodos de forte estiagem; ademais a radiação solar pode interferir no ciclo, alterando suas etapas.

Duas dimensões são relevantes ao estudo da água: quantidade e qualidade. Sobre o prisma da quantidade de água disponível, a maior parte da água da Terra é salgada, sendo apenas 2,5% água doce; a maior parte dessa água doce, por sua vez, está aprisionada em geleiras e aquíferos subterrâneos. Além disso, da água disponível, apenas 0,26% encontram-se em lagos, reservatórios e bacias hidrográficas, mais acessíveis aos seres humanos; portanto, restam apenas 0,0065% como água doce mais facilmente acessível às pessoas.

Se toda a água da Terra coubesse em um recipiente de um litro, a água doce disponível seria o equivalente a 1,3 gotas, ou seja, uma gota e 30% de outra. Ocorre que o consumo dessas “gotas” vem crescendo a uma velocidade superior àquela de crescimento dos habitantes do Planeta. Entre 1900 e 2000, a população mundial aumentou de 1,65 bilhão para 6 bilhões de pessoas, isto é, 3,6 vezes; no mesmo período, o consumo de água cresceu de 500 km3/ano para aproximadamente 5.000 km3/ano, 10 vezes.

No que tange à qualidade da água, destaca-se a poluição, ou seja, alteração das características físicas, químicas e/ou biológicas, que prejudicam usos estabelecidos. A poluição tem como fontes, além da própria natureza, os esgotos domésticos, os efluentes industriais e a drenagem de áreas agrícolas e urbanas; todos esses fatores agravam a disponibilidade para consumo.

Segundo o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos, apresentado na Conferência Rio+20 (2012), a poluição é a causa precípua da redução do volume de água adequada ao consumo, por meio de resíduos industriais e agrícolas e do esgoto doméstico sem tratamento, que poluem mananciais de água, dificultando ou inviabilizando o uso. Ainda de acordo com o Relatório citado, quase um bilhão de pessoas no Planeta não têm acesso a fontes tratadas de água potável.

No Brasil e no mundo, a agricultura, a pecuária e a indústria consomem nove de cada dez litros produzidos, em média (90%). Dessa forma, além da água utilizada para beber, tomar banho, cozinhar e limpar a casa, as pessoas terminam por também “beber” a água “embutida” nos produtos e serviços que adquirem. Ao exportar alimentos e outros itens, o País termina, também, por “exportar” água.

Sobre o Brasil e o uso da água, observam-se:

  • site de origem da imagem 
    O País possui a maior concentração de água doce disponível do mundo, abrangendo cerca de 13,8% do deflúvio médio mundial, correspondentes a 5.744 km3/ano.
  • A distribuição da água doce disponível é desigual, conforme no restante do Planeta. A Região Norte detem 68,5% do potencial hídrico do Brasil, ali vivendo 7% da população brasileira. A Região Sudeste tem disponíveis 6% do potencial hídrico nacional, concentrando 43% da população. A Região Nordeste, por sua vez, conta com 3% da água disponível, para uma população de 29% da população total; essa tem sido, historicamente, a área com os maiores problemas em relação à disponibilidade de mananciais, haja vista a escassez de chuvas.
  • A agricultura brasileira aproveita 40% da água à mesma destinada; os restantes 60% são perdidos pelo uso em excesso ou fora do período de necessidade das plantas em horários de maior evaporação.
  • Nas cidades brasileiras, há elevado nível de desperdício de água, correspondente às chamadas “perdas na rede”; trata-se de água que sai limpa e tratada da empresa distribuidora e que não chega, entretanto, ao consumidor, perdendo-se em tubulações antigas, sem manutenção e/ou clandestinas, sendo essas últimas conhecidas como “gatos”.
  • Além disso, as cidades lidam com o desperdício nas instalações domiciliares, por meio de vazamentos nas tubulações domésticas e de hábitos da população, como tomar banhos longos, escovar os dentes e/ou fazer a barba com a torneira aberta e outros.
Problemas de falta de água não são privativos do Nordeste. Presentemente, várias cidades do Estado de São Paulo, incluindo a Capital, enfrentam uma das piores crises hídricas de sua história, em longo período de estiagem. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP – estima que três mil postos de trabalho tenham sido fechados em função da falta d’água. A irrigação foi consideravelmente reduzida por agricultores e a Secretaria da Agricultura estima, preliminarmente, que a estiagem já tenha reduzido safras de café em 25% e de cana e algodão em 10%.

Para que os(as) leitores(as) tenham ideia do quanto se desperdiça de água em situações domésticas, apresentam-se, abaixo, exemplos ilustrativos:

SITUAÇÕES DOMÉSTICAS
DE DESPERDÍCIO DE ÁGUA

VOLUME DE ÁGUA REQUERIDO
(litros estimados)
Vazamento em tubulação (furo de 2 mm - por dia)

3.200
Escovação de dentes com a torneira aberta (casa a apto)

12 a 80
Torneira gotejando (por dia)

46
Uso da descarga (acionamento desnecessário)

10 a 14

Fonte: Sites do Instituto Akatu e da SABESP.

Com base no exposto anteriormente, conclui-se que o consumo consciente da água impõe-se como uma necessidade importante, haja vista que estamos tratando de um recurso crucial e escasso. O assunto é sério, precisa envolver os poderes públicos, as organizações e as famílias, afetando cada pessoa, tenha essa consciência ou não.

Retornemos à pergunta do presente post: como consumir água conscientemente e ajudando as finanças domésticas?

Sugerimos, a seguir, as seguintes medidas práticas, que não esgotam as possibilidades:


MEDIDAS PARA ECONOMIZAR ÁGUA NO AMBIENTE DOMÉSTICO

  1. site de origem da imagem
    Analisar, a cada mês a, conta de água. É importante que as famílias entendam o formato da conta, as tarifas adotadas e o cálculo dos valores cobrados. Se for o caso, pode-se recorrer à empresa distribuidora de água que atende à população para melhor entendimento dos números apresentados.
  1. Alinhar a família em relação ao objetivo de consumir água conscientemente, de maneira que todos os membros (ou o máximo possível) possam participar da mudança de postura; dessa forma, os benefícios da economia desse precioso bem natural serão potencializados.
  1. Consertar vazamentos com celeridade, os quais podem onerar, em grande medida, uma conta de água e esgoto. Um furo de meros dois milímetros na tubulação de uma residência pode desperdiçar cerca de 3.200 litros de água/dia.
  1. Tomar banhos de curta duração, evitando os banhos longos que também podem levar a consumir mais energia elétrica (a menos que contem com outra forma de energia para aquecimento de banhos).
  1. Escovar os dentes e/ou fazer a barba com a torneira fechada. Muitas pessoas deixam a torneira da pia de seu banheiro aberta, durante essas atividades, por vários minutos, desperdiçando água enquanto isso.
  1. Lavar o rosto e as mãos utilizando água com prudência. Não é necessário, frequentemente, gastar muito tempo para a higienização do dia-a-dia.
  1. Não jogar em vasos sanitários resíduos que possam demandar várias descargas para serem levados à rede de esgoto. Além desse tipo de ação gastar água, pode provocar entupimentos na tubulação.
  1. site de origem da imagem
    Gastar menos água para lavar alimentos. Isso pode ser feito de várias formas, tais como: abrindo menos a torneira, deixando alimentos “de molho”, comendo alimentos cozidos e outras alternativas (essa última opção não deixa de consumir gás ou energia elétrica). Os pontos de atenção abrangem considerar a forma mais adequada a cada alimento (exemplo: folhas de alface devem ser lavadas individualmente), bem como reutilizar a água usada na lavagem (exemplo: usando-a para molhar hortas, jardins e vasos de planta).
  1. Gastar menos água para lavar a louça. Muitas pessoas “lavam” resíduos alimentares com a água, o que não é necessário, podendo os mesmos ser recolhidos antes da lavagem propriamente dita. Basta disciplinar a tarefa, retirando os resíduos alimentadores a descartar, acumulando mais vasilhas sujas, deixando-as de molho juntas e enxaguando-as.
  1. Gastar menos água para lavar roupas. As roupas devem ser acumuladas e, quando for atingida a capacidade da máquina de lavar, lavadas de uma única vez. Lavar peças de roupas avulsas a cada momento faz gastar mais água. As exceções devem ser criteriosas.
  1. Gastar menos água para lavar pisos e paredes de cozinhas, banheiros, jardins e quintais. Varrer primeiro os pisos antes de lavá-los com água. Preferencialmente, utilizar água reaproveitada de alguma forma, como por exemplo, da máquina de lavar.
  1. Avaliar como limpar a calçada. Varrer preliminarmente e usar água reutilizada da máquina de lavar são alternativas. Adotada uma vez por semana, essa segunda medida corresponderia a poupar cerca de 14 mil litros de água por ano, o que equivale a 1,5 caminhão pipa.
  1. Lavar automóveis considerando lógica similar à de calçadas.
  1. Molhar jardins, hortas e vasos de plantas domésticas ao entardecer, quando a evaporação é
    site de origem da imagem
    menor. Durante o dia, o calor pode levar a uma evaporação mais acelerada, conduzindo ao maior consumo de água.
  1. Reutilizar a água de aquários, na mesma linha da água de máquinas de lavar.
  1. Tratar a água de piscinas, evitando a necessidade de trocas frequentes. Cobrir a piscina com lona/outro material apropriado, quando essa não estiver em uso, para evitar a evaporação.
  1. Checar as torneiras e chuveiros da residência e fechá-los. Dispositivos pingando com sinais de problema de uso devem ser consertados ou trocados, se necessitar, com celeridade.
  1. Avaliar a viabilidade econômica de implantação de um sistema de reutilização de água, o qual aproveite a água de banhos, máquinas de lavar, chuva e outras fontes. O tempo de retorno do investimento pode ser de poucos anos, compensando a realização do gasto.

EXEMPLOS DE CONSUMO DOMÉSTICO

Na parte II deste post, apresentamos dois exemplos de consumo de água, os quais ilustram, de distintas formas, como consumir água conscientemente pode ajudar as finanças domésticas.

Finalizamos esta parte I sugerindo consultas às seguintes referências, algumas das quais embasam informações aqui apresentadas:
  • Artigos
Água: recurso escasso ou abundante?”, Hélio Mattar, publicado no site www.akatu.org.br, em 06/05/2013.

“Água:o que há em comum entre Sikri, Ilha de Páscoa e São Paulo”, Paulo Bento Maffei e Paulo Vodianitskaia, publicado no site www.akatu.org.br, em 26/09/2014.
  • Livro “Curso de Gestão Ambiental”, editado por Arlindo Philippi Jr, Marcelo de Andrade Romero e Gilda Collet Bruna, 2004, reimpressão de 2009.
  • Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos, apresentado na Conferência Rio+20 (2012).
  • Sites da Agência Nacional de Águas – ANA, www.ana.gov.br, e de empresas distribuidoras do Brasil.
(A ser continuado)

Postado por Nica Brand

Nenhum comentário:

Postar um comentário