segunda-feira, 21 de julho de 2014

Que tal virar a mesa?

Ele era um executivo de grande corporação. Submetido a stress constante e à competitividade agressiva do ambiente administrativo da maioria das empresas.

Ele estava de olho numa promoção, uma "gerência-geral". Passaria a ser uma espécie de gerente dos gerentes. Só que, óbvio, havia concorrência: um outro gerente estava de olho no cargo. Sujeito bem "competitivo", para usar a linguagem corporativa. Tecla SAP: sujeito ganancioso.
Imagem: David Castillo Dominici
Stock Photo
Sim, ele sabia que aquele outro gerente tinha boas chances. Então ele resolveu adotar atitudes extremas para derrotar esse concorrente: chegava em casa às 19 h e continuava trabalhando em seu computador, até à meia-noite. Chegou um tempo em que ele passava o dia exausto, de tanto trabalhar.

Então tomou outra atitude extrema: resolveu usar uma droga estimulante ("só por um tempo", disse ele pra si mesmo), para poder ficar acordado durante o dia, mesmo trabalhando das 8 da manhã à meia-noite, inclusive nos fins de semana. Ou seja, a droga não era para ele "curtir", mas sim para trabalhar ainda mais.

A tal droga estimulante lhe causou tremores e outros problemas neurológicos. Então ele foi ao médico, que lhe receitou remédios tarja preta. Esses remédios lhe causaram um sério problema gástrico. Então ele passou a tomar remédios para o estômago.

O stress fez sua pressão arterial subir. Ele estava quase surtando de stress. Começou a ter mania de perseguição. Achava que o outro gerente estava tramando contra ele, e colocando algum veneno no cafezinho que ele tomava de meia em meia hora.

Site desta imagem: http://giphy.com/gifs/hSGBT69A9lf0s
Um dia, ele teve um derrame e foi levado para o hospital. Sobreviveu, mas ficou com o lado esquerdo parcialmente paralisado. Teve que se aposentar por invalidez. Ganhou, como presente de despedida, uma caneta fina, não uma top de linha, mas ainda assim, fina.


No início, ficou inconsolável, sentiu-se derrotado. Foi com a família toda passar uma temporada em seu sítio, que ele não visitava há muitos anos. Sentou-se, à noite, na varanda da casa do sítio, e olhou as estrelas e a Lua, que há muito tempo ele até esquecera que existiam. E sentiu-se bem, pela primeira vez em muitos anos.

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De manhã, viu que seu sítio era bem grande, cerca de 10 hectares. O ar fresco da manhã o estimulou a ir até o armazém da região, comprar sementes de hortaliças e plantá-las.

Os filhos voltaram com a babá para a cidade, mas ele e sua esposa ficaram. "Fará bem a você", opinou ela, convencendo-o. Como ele tinha sua aposentadoria, mais uma gorda reserva que fizera, mudou-se definitivamente para o sítio. Não era muito longe da cidade, por isso ficou fácil para seus filhos se transferirem, no início do ano seguinte, para a escola local.

Como era bom sentir o cheiro da terra e às vezes, revirá-la com as mãos nuas sentindo seu frescor. Das hortaliças, ele passou para os cogumelos (shimeji, caetetuba e outros), cuja rentabilidade era muito alta. Contratou três funcionários para ajudá-lo e passou a ser agricultor, definitivamente.

Imagem: http://mrg.bz/VW1sAc

Ah, sim, sobre o outro gerente: ele conseguiu o cargo. Depois de alguns meses, a carga de stress ficou muito violenta. Numa manhã, ele teve um ataque cardíaco ao subir as escadarias da empresa. Já chegou morto ao hospital. O dono da empresa fez um discurso comovente no velório do pobre homem.

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Postado por Beto Locatelli

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