domingo, 27 de julho de 2014

As pessoas gastam muito de seu precioso tempo com futebol?

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Salão de festas de um condomínio. Dois conhecidos, João e Maria, reencontram-se, pessoalmente, após alguns anos sem se verem, na festa de aniversário de um amigo comum.
Lá pelas tantas, e após alguns drinques, João dirige-se a Maria:

— Vi suas postagens sobre futebol na internet, no Facebook. Você dá grande importância a esse assunto, hein?

Maria fica ligeiramente irritada com o comentário, mas, mesmo assim, procura responder em tom de brincadeira:

— Gosto de futebol, sim! E por favor, não me diga que você é daqueles que acham que futebol e mulher não têm nada a ver.

João percebe a irritação, por baixo do tom brincalhão, e tenta amenizar:

— Veja bem: não estou criticando você. Apenas acho que Flamengo e Fluminense, Coríntians e São Paulo, Cruzeiro e Atlético, essas richas, tudo isso ocupa muito a cabeça das pessoas. E as pessoas perdem muito tempo com futebol no Brasil.

Maria responde, ainda com irritação, preocupando seu marido, Pedro, ex-colega de faculdade de João e pouco distante da cena:

— Você está criticando sim. Mas eu não ligo, por que eu gosto de futebol. Aliás, se eu tivesse menos idade e mais pernas, poderia jogar futebol.

Pedro, o marido de Maria resolve ser aproximar e entender o que se passa e esclarece:

— João, lá em casa, todo mundo adora futebol. Eu, ela e os dois meninos, todo mundo é flamenguista.

— Tudo bem, eu também vejo um ou outro jogo na TV. Mas eu estava dizendo, antes de você chegar, que o brasileiro perde mais tempo do que o devido com futebol. Só isso.

Nesse ponto da conversa, Marcela, esposa de João, entra na conversa e observa:

— Liga não, Maria. Na verdade, eu também gosto de jogo de futebol e ele implica muito comigo por isso.

A breve cena acima descrita, hipotética, leva a duas perguntas: 1) nós, brasileiros, gastamos mais tempo do que o desejável com futebol? 2) inclusive, as mulheres?

Com respeito à primeira pergunta anterior, muitas pessoas poderão concordar, de imediato, com o raciocínio de João, afirmando que sim, nós, brasileiros, gastamos muito tempo com futebol e pouco tempo com outras atividades que também seriam importantes. Entretanto, antes de afirmar, é desejável medir. Certas afirmativas somente podem ser validadas se houver medição correta, não na base do “eu acho”.

Cada pessoa pode fazer sua própria medição, bastando anotar, em um caderno ou planilha eletrônica, como se distribui o tempo envolvido em cada uma de suas atividades semanais. Ao longo de sete dias - começando por um domingo e terminando no próximo sábado -, é possível anotar os tempos, em horas ou minutos, conforme a preferência, envolvidos em tarefas como trabalhar, cuidar dos filhos, ir aos bancos, cinema, futebol e outras tantas, para cada dia da semana de observação. Os valores anotados por dia e por atividade deverão ser totalizados para a semana observada.

Mas o que seria um tempo adequado de dedicação a cada atividade? Não existe resposta pronta a essa pergunta. Cada pessoa deve avaliar sua medição, com base no peso de cada atividade no tempo total disponível. Exemplificando: sete dias correspondem a 7 x 24 horas, ou seja, 168 horas. Se a pessoa se dedicar 1 hora por dia a leituras ou programas de TV/rádio sobre futebol, por exemplo, gastará 7 horas por semana, correspondentes a 4,2% do tempo total disponível de domingo até o próximo sábado. Esse percentual é bom? Depende. Quanto a pessoal dispende de seu tempo com outras atividades? O importante é que a distribuição dos percentuais de cada atividade agrade a cada um e à sua família, em prol do equilíbrio e da felicidade geral.

saltoaltofutebolclube.wordpress.com
Com respeito ao envolvimento das mulheres com futebol, temos a hipótese de que seja crescente, embora somente a medição supracitada possa ser aplicada, estatisticamente, para confirmar essa percepção. Acreditamos, principalmente, que a presença das mulheres e das famílias, de maneira geral, nos estádios brasileiros tem potencial para aumentar nos próximos anos, em função de que várias arenas construídas para a Copa do Mundo da Fifa no Brasil (2014) são altamente confortáveis, o que torna a ida às mesmas um programa interessante. E as alternativas de aproveitamento dessas arenas, além do futebol, poderão também favorecer o encanto pelo esporte. Tomara que o Brasil saiba aproveitar bem os investimentos realizados.

Em tempo, se a preocupação de João com “o brasileiro que gasta mais tempo que o devido com o futebol” é pertinente (acreditamos mesmo que seja verdadeira para muitos pessoas), em prol do equilíbrio da vida e também da importância que outros assuntos têm para todos os brasileiros, é importante atentar aos seguintes aspectos:

1) O ideal é embasar afirmativas similares em dados e pesquisas de entidades respeitáveis, para evitar o “achismo”, que enfraquece a posição defendida. Lembrando que pesquisas são um retrato de um dado momento, tirado para um dado conjunto de pessoas, o qual pode mudar com o passar do tempo.

2) Não é apenas o futebol que provavelmente ocupa muito tempo de várias pessoas. Quantos milhões de brasileiros também não passam muitas e muitas horas vendo outros programas de TV, ou na internet, ou em outras atividades, em detrimento da família e de assuntos importantes para o Brasil? A crítica deve ser ampla, portanto.

3) O lazer é parte importante da vida dos seres humanos, os adultos têm a necessidade de brincar, assim como as crianças, e o futebol é uma das várias maneiras de permitir que as pessoas brinquem, pulem e se divirtam, desde que sejam evitados os excessos, como violência dentro e fora dos gramados.

Finalizamos, ao rever a cena descrita no início, dizendo que é recomendável respeito ao debater ideias com pessoas que podem ter pontos de vista distintos, sendo esse um dos princípios mais caros de um ambiente democrático. E sempre evitando sexismo, seja para um lado, seja para o outro.

Postado por Nica Brand

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