domingo, 9 de novembro de 2014

O Aquífero Guarani é a solução para a falta d'água em SP?

A mancha azul que vemos no mapa (clique na imagem para ampliar) é o chamado Aquífero Guarani, o maior reservatório subterrâneo de água potável do mundo, que está no subsolo de quatro países: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.


O nome foi dado em 1996 pelo geólogo uruguaio Danilo Danton. Trata-se de um reservatório de espessura média de 250 m e volume total avaliado em 45 mil km3. Para fazermos uma ideia do que isso representa, vamos dividir esse volume por uma população de, digamos, 90 milhões de pessoas, que é aproximadamente o número de seres humanos que vive na região do aquífero. Isso dá QUINHENTAS caixas d'água de MIL LITROS para cada uma dessas pessoas.

É natural que pensemos:

— Uau!! O que estamos esperando? Vamos começar a extrair água desse aquífero agora mesmo!!

De fato, o Aquífero Guarani já está sendo explorado, infelizmente da maneira incorreta. Por exemplo, em Rio Preto (SP), boa parte do abastecimento da cidade provém do Guarani. A cada ano as bombas têm que extrair água de maior profundidade, o que aumenta muito o custo. Além disso, em profundidades maiores, a água é muito quente. Chegará o momento em que se atingirá o limite da temperatura suportável pelos equipamentos, que é de 80° C. Saiba mais aqui.

Dados e fatos

- Um aquífero não é uma piscina subterrânea, não é uma caverna gigantesca cheia de água. A água dos aquíferos está nos interstícios das rochas. Isso é um dos fatores que encarece sua extração.

- Os aquíferos recebem água da superfície, mas numa velocidade muito lenta. Se a exploração dos aquíferos for feita de maneira atabalhoada, esses mananciais subterrâneos se esgotarão.

- A América do Sul conta com inúmeros aquíferos, entre os quais: Guarani, Solimões, Jaci Paraná, e muitos outros. Na verdade, a América Latina detém as maiores reservas de água subterrânea do mundo.

É a solução para crise da água?

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Como foi explicado acima, a cidade de Rio Preto está experimentando, na prática, o resultado de explorar o Aquífero Guarani de maneira não planejada. A água para consumo humano deveria vir, prioritariamente, de reservatórios na superfície, sejam eles reservatórios naturais (lagos) ou construídos pelo homem (como é o caso da Cantareira, no estado de SP). Os aquíferos subterrâneos deveriam ser encarados como uma poupança, uma reserva para emergências.

Mas não é uma emergência o caso de São Paulo? Sim, é. Mas não deveria ser. A situação só chegou ao ponto em que chegou porque houve falta de planejamento. A própria relatora da ONU, que estudou o problema – a partir de relatórios dos técnicos – chegou a essa conclusão, como podemos ver aqui.

O fato é que, agora, fica difícil apelar para o Aquífero Guarani como solução emergencial, pois para que essa água subterrânea possa ser extraída, é preciso um sistema de poços artesianos que têm um custo altíssimo de construção. E, além do mais, não há tempo hábil, já que a Cantareira caminha para o esgotamento no início do próximo ano, apesar das chuvas.

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O Aquífero Guarani espalha-se por regiões que não têm problemas graves de seca, mesmo considerando-se o dado que mostra uma redução das chuvas em SP no ano de 2014. Por isso, repetimos, o Guarani deveria ser encarado como uma reserva estratégica, para ser usado apenas em caso de necessidade, como aquele dinheiro guardado na poupança da família, que fica lá até ser necessário.

Podemos gerir essa poupança, retirando pequenas quantias e, assim que possível, recolocando o valor de volta. No caso do Aquífero Guarani, basta que o exploremos de maneira racional para que a Natureza se encarregue de repor o volume de águas retirado.

Portanto, não somos contra a exploração do Aquífero Guarani. Ele pode ser útil para a agricultura, para o reflorestamento de áreas desertificadas, e também para o consumo residencial e até industrial.

No entanto, temos que realizar essa exploração de maneira sustentável. A começar pelo limite de volume a ser retirado, permitindo que o manancial se recomponha naturalmente.

O que está a ocorrer com a água doce, no Planeta, é fruto da irresponsabilidade no uso desse bem precioso. Nós poluímos os rios, esgotamos os recursos hídricos de superfície – como lagos e nascentes – e depois nos voltamos para alternativas, como o Aquífero Guarani. E quando os aquíferos se esgotarem também? Bem, aí teremos que dessalinizar a água do mar, processo que tem um custo enorme.

O fato é que a água é um bem finito, isto é, não existe em quantidade ilimitada. Há que se rever a forma como temos tratado esse bem precioso. E temos que fazer isso também na exploração dos aquíferos, como o Guarani.

Postado por Beto Locatelli

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