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"Esta Escola transmite conhecimentos. As crianças devem vir educadas de casa."
Estes dizeres foram colocados num cartaz na fachada de uma escola brasileira. O fato gerou uma saudável polêmica e um necessário debate. Afinal, qual é o papel dos professores? E dos pais? O Ministério da Educação deveria mudar seu nome para Ministério do Ensino?
Uma amiga nissei me relatou que, no Japão, há algumas décadas, era costume as crianças fazerem a limpeza da sala de aula uma vez por mês. Era considerado educativo que, regularmente, as crianças fossem à escola com vassouras e baldes em punho, para reforçar a ideia de que aquela sala era delas. Por isso, se uma criança desavisada começasse a rabiscar a carteira, seria alertada pelo coleguinha do lado para não fazer aquilo, pois seria difícil de limpar. Está claro que este procedimento tem, por trás, a visão da Educação escolar, para além da simples transmissão de conhecimentos.
E temos que nos lembrar das escolas que funcionam em regime de internato, isto é, a criança RESIDE na própria escola. Os professores são os educadores daqueles alunos, que só têm contato com os pais nos períodos de férias.
Educar é formar o caráter de uma criança. O caráter é constituído de valores, ética e também de conhecimentos, ensinamentos e informações. Educar é, pois, tarefa dos pais e dos professores. Não é à toa que os profissionais de ensino são chamados de educadores.
A criança evolui 24 horas por dia. Mesmo quando os pais acham que não estão educando os filhos, estes estão olhando atentamente o comportamento dos pais, vendo se eles estão, por exemplo, fumando, ingerindo álcool, falando palavrões, brigando etc. Mesmo quando os professores acham que estão transmitindo apenas informações a seus alunos, estão servindo de exemplo comportamental a eles. Se, digamos, um professor costuma tratar com rispidez crianças negras, essa atitude está sendo captada, tanto pelas crianças afrodescendentes, como pelas outras. Por isso, é inevitável que os professores sejam educadores, além de transmissores de conhecimento.
É claro que a Educação transmitida na escola não exime os pais da responsabilidade de educar os filhos. A responsabilidade de ser pai e mãe, de filho biológico ou adotivo, é insubstituível. Os pais educam os filhos bem antes de eles terem idade para a Educação na escola. E os professores devem educar as crianças para serem cidadãos produtivos, além de orientarem a escolha vocacional de seus alunos, especialmente no ensino médio.
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É claro que a Educação transmitida na escola não exime os pais da responsabilidade de educar os filhos. A responsabilidade de ser pai e mãe, de filho biológico ou adotivo, é insubstituível. Os pais educam os filhos bem antes de eles terem idade para a Educação na escola. E os professores devem educar as crianças para serem cidadãos produtivos, além de orientarem a escolha vocacional de seus alunos, especialmente no ensino médio.
A imagem que ilustra este artigo é do famoso filme Harry Potter. É claro que se trata de uma estória infanto-juvenil, sem maiores pretensões filosóficas. No entanto, é inevitável perceber o conceito de Escola implícito na série. A Escola Hogwarts de Magia e Bruxaria (Hogwarts School of Witchcraft and Wizardry) é um internato. Em Hogwarts, os professores são educadores em tempo integral. O caráter de Harry Potter é fortemente influenciado pelo vetusto professor Dumbledore.
Certamente a autora da série de livros, J. K. Rowling, foi influenciada pelo antigo conceito da relação Mestre-discípulo. Essa relação existe desde a antiguidade, no Ocidente ou no Oriente. No Oriente, podemos citar o ensino das artes marciais da China antiga, ou técnicas de autoconhecimento da região que hoje tem o nome de Índia. Já no Ocidente, podemos citar as escolas de filosofia, como a Escola Pitagórica, ou mesmo o ensino dos ofícios na Idade Média. Neste último caso, tínhamos o Mestre Ferreiro e seu(s) aprendiz(es), o Mestre Sapateiro e seu(s) aprendiz(es), a Mestra Costureira e suas alunas-assistentes. Em todos esses exemplos, o professor era tratado com respeito, reverência e deferência, pois ele era o detentor de conhecimentos preciosos e os transmitia apenas àqueles que fossem dignos de recebê-los. Diz um livro de filosofia da Índia antiga: "esta filosofia absolutamente secreta só deve ser ensinada a um filho ou a um discípulo totalmente dedicado".
A frase citada no início do artigo não leva em conta toda essa tradição de que o profissional do ensino é um educador, e não um mero despejador de informações na cabeça dos alunos. A frase infeliz é o resultado de um conceito mercantilista da instituição de ensino. A Escola, segundo essa ideia, seria apenas uma empresa prestadora de serviços, os professores seriam apenas funcionários, e os alunos seriam os clientes, pagantes. E, como se sabe, o cliente tem sempre razão e, além disso, está no topo da hierarquia dessa relação comercial, já que ele é que entra com o dinheiro.
Em diversas escolas particulares, muitas vezes os alunos dão nota aos professores (!!) ao final de cada semestre, e os que tiverem notas ruins (por serem muito "exigentes" com os alunos, por exemplo) são demitidos. Isso representa uma total inversão de valores na relação aluno-professor, com o educador perdendo totalmente sua autoridade. Acreditamos que este seja um dos motivos que têm levado a Educação a uma queda de qualidade em diversos países, por exemplo Brasil e EUA. Na maioria dos países da Europa essa "modernidade" canhestra não tem muito sucesso e as escolas ainda mantêm a hierarquia e o respeito para com os mestres.
Quando os profissionais de ensino são tratados como meros prestadores de serviço, aqueles que fazem mais sucesso entre os "clientes" (alunos) são os que nada exigem, e dão notas altas a todos. É preciso que o professor recupere seu status e sua hierarquia. Isso não impede que o ambiente escolar seja democrático, com as opiniões dos alunos sendo, sim, levadas em conta.
Por outro lado, é preciso lembrar que os profissionais de ensino têm que ter salários dignos. Essa conversa de alguns de que "o magistério é um sacerdócio, por isso o professor não deve se preocupar com salário" não tem validade, já que um professor mal pago não conseguirá nem mesmo comprar livros para se atualizar. Médicos, por exemplo, cobram bem, e não se ouve ninguém achando que isso é descabido porque "a medicina é um sacerdócio". Professores deveriam ganhar mais do que todos os outros profissionais, já que sem eles não existiria nenhuma profissão. O fato de que os profissionais de ensino têm uma missão mais nobre do que a maioria dos demais profissionais não pode servir de desculpa para exigir dos educadores uma espécie de voto franciscano de pobreza.
Então, refrisamos que os pais não têm apenas a função de dar casa, comida e roupa lavada aos filhos. Eles são educadores. Os professores não são apenas repassadores de informações. Eles também são educadores!
Postado por Beto Locatelli
Certamente a autora da série de livros, J. K. Rowling, foi influenciada pelo antigo conceito da relação Mestre-discípulo. Essa relação existe desde a antiguidade, no Ocidente ou no Oriente. No Oriente, podemos citar o ensino das artes marciais da China antiga, ou técnicas de autoconhecimento da região que hoje tem o nome de Índia. Já no Ocidente, podemos citar as escolas de filosofia, como a Escola Pitagórica, ou mesmo o ensino dos ofícios na Idade Média. Neste último caso, tínhamos o Mestre Ferreiro e seu(s) aprendiz(es), o Mestre Sapateiro e seu(s) aprendiz(es), a Mestra Costureira e suas alunas-assistentes. Em todos esses exemplos, o professor era tratado com respeito, reverência e deferência, pois ele era o detentor de conhecimentos preciosos e os transmitia apenas àqueles que fossem dignos de recebê-los. Diz um livro de filosofia da Índia antiga: "esta filosofia absolutamente secreta só deve ser ensinada a um filho ou a um discípulo totalmente dedicado".
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A frase citada no início do artigo não leva em conta toda essa tradição de que o profissional do ensino é um educador, e não um mero despejador de informações na cabeça dos alunos. A frase infeliz é o resultado de um conceito mercantilista da instituição de ensino. A Escola, segundo essa ideia, seria apenas uma empresa prestadora de serviços, os professores seriam apenas funcionários, e os alunos seriam os clientes, pagantes. E, como se sabe, o cliente tem sempre razão e, além disso, está no topo da hierarquia dessa relação comercial, já que ele é que entra com o dinheiro.
Em diversas escolas particulares, muitas vezes os alunos dão nota aos professores (!!) ao final de cada semestre, e os que tiverem notas ruins (por serem muito "exigentes" com os alunos, por exemplo) são demitidos. Isso representa uma total inversão de valores na relação aluno-professor, com o educador perdendo totalmente sua autoridade. Acreditamos que este seja um dos motivos que têm levado a Educação a uma queda de qualidade em diversos países, por exemplo Brasil e EUA. Na maioria dos países da Europa essa "modernidade" canhestra não tem muito sucesso e as escolas ainda mantêm a hierarquia e o respeito para com os mestres.
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Quando os profissionais de ensino são tratados como meros prestadores de serviço, aqueles que fazem mais sucesso entre os "clientes" (alunos) são os que nada exigem, e dão notas altas a todos. É preciso que o professor recupere seu status e sua hierarquia. Isso não impede que o ambiente escolar seja democrático, com as opiniões dos alunos sendo, sim, levadas em conta.
Por outro lado, é preciso lembrar que os profissionais de ensino têm que ter salários dignos. Essa conversa de alguns de que "o magistério é um sacerdócio, por isso o professor não deve se preocupar com salário" não tem validade, já que um professor mal pago não conseguirá nem mesmo comprar livros para se atualizar. Médicos, por exemplo, cobram bem, e não se ouve ninguém achando que isso é descabido porque "a medicina é um sacerdócio". Professores deveriam ganhar mais do que todos os outros profissionais, já que sem eles não existiria nenhuma profissão. O fato de que os profissionais de ensino têm uma missão mais nobre do que a maioria dos demais profissionais não pode servir de desculpa para exigir dos educadores uma espécie de voto franciscano de pobreza.
Então, refrisamos que os pais não têm apenas a função de dar casa, comida e roupa lavada aos filhos. Eles são educadores. Os professores não são apenas repassadores de informações. Eles também são educadores!
Postado por Beto Locatelli
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